Dos tempos antigos até os dias atuais, a melancolia aparece assumindo diferentes nomes e formas, como tema de estudos médicos ou filosóficos e fonte de inspiração para poetas e artistas. De acordo com Pringent (2005), Hipócrates e seu genro Polybe, num trabalho intitulado “ A natureza do homem”, isolam no corpo humano quatro humores sendo eles sangue, fleuma, bílis branca e bílis negra. A saúde é definida como o equilíbrio dos quatro humores. A doença provém do domínio de um dos humores sobre os outros e Hipócrates estabelece uma relação entre as características físicas e o comportamento mental.
Ainda no século IV a. C., Aristóteles define a melancolia como um estado originário da bílis negra que corresponde aos homens de exceção, aos homens que são considerados gênios. Todos os que têm sido homens de exceção, os filósofos, os poetas, os artistas, são manifestamente melancólicos. Eles têm uma propensão a seguir a imaginação que é inseparável da memória. Para os autores Klibansky, Panofsky & Saxl, 1964/1989; Prigent (2005), a melancolia é associada à imaginação por Aristóteles.
No fim do século XVI, há uma desmistificação da melancolia. Há uma dissociação entre a melancolia e a imaginação e também entre a genialidade e a melancolia. Nos séculos XVII e XVIII ganham relevo os males e as consequências que a melancolia acarreta no indivíduo. A melancolia é definida como uma patologia inquietante, ligada à imaginação devendo ser tratada. No plano filosófico e literário, a melancolia é caracterizada como tédio, como falta de interesse pelo mundo externo, dor existencial, paralisia psíquica, tristeza profunda, abatimento, desgosto.
No século XIX, com a instauração do saber psiquiátrico, a melancolia é associada à doença mental. Para Prigent (2005) com o nascimento da psiquiatria começa-se uma análise dos sintomas da melancolia. Esquirol (1838) e Pinel (1856) a definem como uma mania, uma loucura caracterizada por um delírio parcial com uma tendência triste ou opressiva. Para Esquirol (1805) não somente as paixões são as causas mais comuns da alienação mental, mas ela tem com essa doença e suas variedades, relações de semelhança extraordinária. Segundo Esquirol (1838), a palavra melancolia, consagrada na linguagem vulgar para exprimir o estado de tristeza de qualquer indivíduo, deve ser deixada aos moralistas e aos poetas, que em suas expressões não são obrigados a tanta seriedade quanto os médicos. Esquirol (1838) propõe o termo monomania que designa um estado anormal da sensibilidade física ou moral, com um delírio circunscrito e fixo. Esse fato marca o início da substituição, e consequentemente, confusão dos termos melancolia e depressão. De acordo com Berrios (2012), o que facilitou a remodelação da melancolia e a predominância do conceito de doença depressiva foram os estudos de Esquirol (1805, 1838) que ao fazer a distinção entre melancolia e depressão, enfatizou a natureza afetiva primária da doença. Ainda segundo Berrios (2012), a palavra depressão já aparece nos dicionários médicos em 1860. No século XIX muitos escritores associam melancolia e memória.
Para Freud (1917[1915]/2006) a melancolia é uma psiconeurose narcísica. O sentido da melancolia na psicanálise Freud (1895/1996c), afirma que o afeto que corresponde à melancolia é o luto, o desejo de recuperar algo que foi perdido. Trata-se de uma perda pulsional, da perda da libido. Para Freud, no caso da melancolia é como se houvesse um buraco na esfera psíquica. Esse buraco nos faz pensar em algo que não pôde ser representado.
Referência:
ELZILAINE, D. M.; VIANA, T.C.; BARA, O. Melancolia e Depressão: Um Estudo Psicanalítico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, Out-Dez 2014, Vol. 30 n. 4, pp. 423-431.
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